“É muito provável que tenha sido de fato repasse do (corte do) ICMS”, disse Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.
No caso da conta de luz, Kislanov informou que o cálculo do IPCA já incorporou decretos estaduais retirando a cobrança do ICMS sobre serviços de transmissão e distribuição de energia elétrica em Minas Gerais, Espírito Santo e Pernambuco. O instituto também considera no cálculo as informações de concessionárias que informaram terem decidido voluntariamente não cobrar mais o ICMS sobre a transmissão. “De fato, outros estados ainda pode ser que publiquem outros decretos ou normas”, lembrou.
A gasolina é o item de maior peso no cálculo do IPCA, 5,74%, seguido pela energia elétrica, 3,9%. Além de possíveis movimentações decorrentes do ICMS e reajustes na conta de luz, Kislanov lembra que o IPCA de setembro deve incorporar ainda a redução de 7,08% no preço da gasolina nas refinarias conduzida pela Petrobras em 2 de setembro.
Sete dos nove grupos do IPCA tiveram inflação
Apesar da trégua via itens monitorados pelo governo, sete dos nove grupos de custos investigados ainda mostraram aumentos de preços no IPCA de agosto e 65% dos itens pesquisados ficaram mais caros. Os vilões no último mês foram os aumentos nos itens de higiene pessoal, plano de saúde, emplacamento e licença de veículo, refeição fora de casa e roupa feminina.
Para Helena Veronese, da B.Side Investimentos, a composição da deflação de agosto “não é boa”, com preços industriais ainda elevados e alimentos dando uma trégua que pode ser apenas sazonal.
“Todo o resto continua alto”, avaliou Veronese, para quem o quadro inflacionário reforça a sinalização do Banco Central nesta semana feita pelo presidente Roberto Campos Neto e corroborada pelo diretor Bruno Serra. “A mensagem é de a inflação preocupa e que as expectativas não estão ancoradas”, opinou.
O grupo Alimentação e bebidas teve uma elevação de 0,24% em agosto. Houve altas em itens importantes na cesta das famílias, como o frango em pedaços (2,87%), queijo (2,58%) e frutas (1,35%), mas quedas expressivas nos preços do tomate (-11,25%), batata-inglesa (-10,07%) e óleo de soja (-5,56%). O preço do leite longa vida caiu apenas 1,78% em agosto, depois de uma alta ter subido 25,46% em julho. O leite longa vida ainda acumula uma alta de 74,68% apenas neste ano.
“Os preços continuam em patamar elevado”, apontou Pedro Kislanov, do IBGE.
Inflação de serviços
A inflação de serviços – usada como termômetro de pressões de demanda sobre os preços – passou de uma elevação de 0,8% em julho para uma alta de 0,28% em agosto. A desaceleração nos serviços foi explicada pela queda nas passagens aéreas e em telefonia, além de alta mais branda em aluguel residencial e serviços ligados ao turismo. As passagens aéreas caíram 12,07% em agosto, após acumularem uma alta de 55,78% nos quatro meses anteriores.
“Os dados mais recentes macroeconômicos sinalizam para uma retomada econômica, que contribui para um aumento da demanda que se manifesta no IPCA, principalmente, no setor de serviços”, disse Kislanov, lembrando que a inflação de serviços acumulada em 12 meses “desacelerou em agosto, mas continua em nível bem mais alto que em meses anteriores”.
A melhora da crise sanitária e de restrições de circulação de pessoas e funcionamento de estabelecimentos tem estimulado uma pressão de demanda sobre a inflação.
“Com essas flexibilizações e as pessoas saindo mais, consumindo mais serviços, isso sem dúvida contribui para você ter uma demanda maior sobre os produtos e serviços na economia. As quedas são nos chamados preços monitorados, e não no que a gente chama nos preços livres, embora a gente tenha tido queda também em vários preços livres”, explicou Kislanov.
Os preços de itens monitorados pelo governo saíram de um recuo de 4,35% em julho para uma redução de 2,55% em agosto.
No acumulado em 12 meses, a inflação de serviços passou de 8,87% em julho para 8,76% em agosto. Já a inflação de monitorados em 12 meses saiu de 5,11% em julho para 1,47% em agosto.
“Ainda há resiliência na prestação de serviços, que realmente demora um pouco mais, ainda no aguardo da movimentação do mercado de trabalho, mas deve acontecer. O trabalho do Banco Central está feito, resta aguardar”, afirmou o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flavio Serrano. /Colaboraram Isabela Bolzani, Italo Bertão Filho e Maria Regina Silva.